Uma lição de Paz
Quando vivia em Menorca, num dado momento, estava a ter alguma dificuldade em relacionar-me com uma pessoa. A pessoa em questão é muito especial e tinha uma personalidade extremamente difícil, não sei se com toda a gente se relacionava da mesma forma, mas comigo, e naquele momento particular, estava a ser muito "tenaz". É fácil falar em amor quando se está apaixonado, é fácil falar em alegria quando tudo na vida corre bem. O difícil e o verdadeiro desafio é actuar com amor e alegria quando temos de conviver e relacionar-nos com pessoas que estão momentânea ou permanentemente conectadas com energias negativas, como o egoísmo, inveja, mentira etc. é fácil contaminar-nos por essas energias. Quando me deparo com situações que me tiram do centro e quando não consigo resolve-las, muitas vezes eu abro um livro "ao calhas"... normalmente o Gita ou os Yoga Sutras para tentar encontrar uma resposta, uma direcção, uma solução. Estava mesmo a "fritar"... sem conseguir dormir, mas a observar como os pensamentos destrutivo e de raiva em relação à ela despertavam emoções tão negativas em mim... a violência sempre volta... não adianta cultivar sentimentos nem pensamentos violentos, afinal... eles existem dentro de nós, e quando os reconhecemos há que agir, e cultivar os sentimentos opostos, essa é a prescrição de Patanjali.
abri então os Yoga sutras... normalmente me concentro e abro ao calhas... e fiquei de boca aberta com a exactidão:
Ahimsapratisthayam tatsamnidhau vairatyagah
ahimsa: não violência; pratisthayam: estar firmemente estabelecido; tatsamnidhau: à sua volta; vaira: hostilidade; tyagah: abandono
Quando estamos firmemente estabelecidos em Ahimsa há abandono total de hostilidade e de tudo que a rodeia.
Nesse mesmo livro há um comentário, e o autor indica que Ahimsa é muito difícil, dando o exemplo de Gandhi, que apesar de praticar Ahimsa, foi assassinado. E depois disso ele dá o exemplo do próprio Patanjali, diz-se que Patanjali estava totalmente assente em Ahimsa, e que os animais, inclusive Tigres, conviviam no seu Ashram, nenhum animal tinha medo de Patanjali.
fui dormir... a mensagem foi bem clara.
Na manhã seguinte, fomos dar um passeio na nossa praia "privativa", não é uma praia da areia mas uma pequena bahia rodeada por um pier de madeira. Ao chegar no nosso local habitual e assentar as nossas toalhas, eu vejo um Polvo na água.
A água em M enorca é cristalina, não havia vento nesse dia e a superfície da água estava um verdadeiro espelho. Apanhei a maquina de fotos à prova da água, e disparei algumas fotos (sempre de fora da água). entretanto desci da plataforma de madeira e coloquei os pés n'água, e afundei a maquina com a esperança de aproximar a imagem. O Polvo estabeleceu contacto visual comigo, e em vez de fugir, se aproximou... e eu fiquei espantado, meio com medo até, era um Polvo grande, e estava pigmentado de vermelho vivo. Maior espanto ainda, foi quando ele nadou na minha direcção, sem medo, mesmo aos meus pés, subiu a pedra, estendeu um dos 8 tentáculos fora da água e me tocou na mão, afundou, e foi embora. Eu, as crianças e a minha mulher ficamos sem palavras.
Para os que não conhecem os ensinamentos de Patanjali; Patanjali compilou os Yoga Sutras, 196 aforismos sobre o Yoga que formam a base filosófica e prática do Ashtanga Yoga ou Yoga em 8 partes. O Yoga de Patanjali descreve 8 passos essenciais que devem ser seguidos até atingir-se a auto-realização.
Os oito passos são os seguintes: Yamah (ética social) Niyamah (ética pessoal) Asana (postura) Pranayama (Exercícios respiratórios) Pratiahara (interiorização dos sentidos) Dharana (concentração) Dhyana (meditação) Samadhi (Auto-Realização).
Yamah e Niyama são compostos por 5 códigos éticos cada um:
Yamah (ética social): Ahimsa (não violência) Satya (verdade) Asteya (não roubar) Bramhamacharia (contenção da energia sexual) Aparigraha (desapego)
Niyamah (ética pessoal) Saucha (purificação/limpeza) Santosha (contentamento) Tapas (austeridade) Svadhiaya (estudo) Svara-pranidhana (auto-entrega)
A exactidão e sincronicidade dos eventos até hoje me surpreendem, foi uma grande lição, Octopus (oito-membros), e estendeu-me o tentáculo da "Yamah" nunca mais vou comer um Polvo na minha vida... isso é seguro... e para aplicar o segundo código ético; Verdade; essa é uma das fotos que tirei do Polvo avatar.
Practice... Practice... All Is Coming...
Tarik